Resenha: O nariz, Nikolai Gógol
Postado
22/06/2021 16H12
Se
você só mete o nariz onde é chamado, eu te convido agora a
conhecer O nariz, do escritor russo Nikolai Gógol. A obra foi
publicada pela primeira vez em uma revista, no ano de 1836 e neste
ano de 2021 ela ganhou uma bela edição brasileira, ilustrada e
repleta de informações complementares, pela editora Antofágica.
No
sombrio clima de São Petersburgo algo inusitado acontece, um
funcionário público chamado Kovaliov acorda pela manhã e, ao se
olhar no espelho, percebe que está sem o próprio nariz. Ao invés
de um nariz entre as suas bochechas, Kovaliov encontra uma planície
vazia e achatada. Seguido do susto pelo inesperado, a ideia de ser
visto pelas ruas de São Petersburgo sem nariz, o assombra
imensamente. Kovaliov, então, começa então uma busca implacável
por essa parte do seu corpo, por todos os cantos da cidade. Ao longo
da narrativa, a vergonha e o pavor iminente de ser visto pelos seus
conhecidos da alta sociedade é enfatizada, até porque, como ele
mesmo assume, se fosse a perda de uma perna, ou de um braço seria
menos desagradável, porque andar sem nariz, convenhamos, é
indecente. Aí temos uma das críticas que Gógol propõe nas
entrelinhas da obra, uma crítica ao mundo das aparências.
O
nariz, de Gógol é uma obra marcada pela crítica à sociedade
russa, com elementos de sátira e comicidade. A leitura complementar
da edição da Antofágica mostra que o humor de Gógol pode ser
entendido como um riso entre lágrimas, onde o ar cômico se
estabelece a partir do sofrimento do personagem, no caso de O nariz,
a dor de Kovaliov, que perde uma parte do seu corpo e se desespera ao
tentar encontrar o adereço que lhe causa a boa aparência. Além da
reflexão sobre as aparências, o nariz traz um olhar para a
estrutura do sistema público da época, onde praticamente qualquer
pessoa pode ocupar um cargo.
Ao
mesmo tempo em que Kovaliov encontra sua desgraça na ausência do
próprio nariz, em outro canto da cidade, o barbeiro Ivan Iákovlevitch,
tenta se livrar de um nariz que havia encontrado de forma também
inusitada. O fantástico que circunda a vida dos personagens não é
nada além de uma rotina ocasional que até pode acontecer de vez em
quando. Seus personagens são pessoas normais, cidadãos comuns, que
por um acaso ou não, se defrontam com uma ocasião anormal e
inusitada, como o desaparecimento de um nariz. A história é contada
de maneira tão natural e rotineira, que nada é tão fantástico ao
ponto de ser algo de outro mundo, ou de outra dimensão, apenas algo
inusitado que pode acontecer a qualquer um, a qualquer momento.
Fica
aí o convite, não ande de nariz empinado, pois agora já não
existem mais desculpas para você não conhecer essa obra!!
Categoria:Cultura