Resenha: O nariz, Nikolai Gógol

            Se você só mete o nariz onde é chamado, eu te convido agora a conhecer O nariz, do escritor russo Nikolai Gógol. A obra foi publicada pela primeira vez em uma revista, no ano de 1836 e neste ano de 2021 ela ganhou uma bela edição brasileira, ilustrada e repleta de informações complementares, pela editora Antofágica.

            No sombrio clima de São Petersburgo algo inusitado acontece, um funcionário público chamado Kovaliov acorda pela manhã e, ao se olhar no espelho, percebe que está sem o próprio nariz. Ao invés de um nariz entre as suas bochechas, Kovaliov encontra uma planície vazia e achatada. Seguido do susto pelo inesperado, a ideia de ser visto pelas ruas de São Petersburgo sem nariz, o assombra imensamente. Kovaliov, então, começa então uma busca implacável por essa parte do seu corpo, por todos os cantos da cidade. Ao longo da narrativa, a vergonha e o pavor iminente de ser visto pelos seus conhecidos da alta sociedade é enfatizada, até porque, como ele mesmo assume, se fosse a perda de uma perna, ou de um braço seria menos desagradável, porque andar sem nariz, convenhamos, é indecente. Aí temos uma das críticas que Gógol propõe nas entrelinhas da obra, uma crítica ao mundo das aparências.
           
             O nariz, de Gógol é uma obra marcada pela crítica à sociedade russa, com elementos de sátira e comicidade. A leitura complementar da edição da Antofágica mostra que o humor de Gógol pode ser entendido como um riso entre lágrimas, onde o ar cômico se estabelece a partir do sofrimento do personagem, no caso de O nariz, a dor de Kovaliov, que perde uma parte do seu corpo e se desespera ao tentar encontrar o adereço que lhe causa a boa aparência. Além da reflexão sobre as aparências, o nariz traz um olhar para a estrutura do sistema público da época, onde praticamente qualquer pessoa pode ocupar um cargo.
Ao mesmo tempo em que Kovaliov encontra sua desgraça na ausência do próprio nariz, em outro canto da cidade, o barbeiro Ivan Iákovlevitch, tenta se livrar de um nariz que havia encontrado de forma também inusitada. O fantástico que circunda a vida dos personagens não é nada além de uma rotina ocasional que até pode acontecer de vez em quando. Seus personagens são pessoas normais, cidadãos comuns, que por um acaso ou não, se defrontam com uma ocasião anormal e inusitada, como o desaparecimento de um nariz. A história é contada de maneira tão natural e rotineira, que nada é tão fantástico ao ponto de ser algo de outro mundo, ou de outra dimensão, apenas algo inusitado que pode acontecer a qualquer um, a qualquer momento.
            
        Fica aí o convite, não ande de nariz empinado, pois agora já não existem mais desculpas para você não conhecer essa obra!!

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